INTRODUÇÃO: Doenças renais e hepáticas causam crises epilépticas e pacientes com epilepsia podem sofrer doenças renais e hepáticas modificadoras do metabolismo das drogas antiepilépticas (DAEs). OBJETIVOS: Rever como crises epilépticas podem ser causadas pelas alterações metabólicas próprias às doenças renais e hepáticas, pelo tratamento das mesmas e de suas comorbidades e de que forma a escolha das DAEs é influenciada por estas condições. RESULTADOS: Crises surgem na insuficiência renal associadas ao acúmulo de toxinas e complicações como sepse, hemorragias, hipertensão maligna, distúrbios de pH e hidroeletrolíticos. A hemodiálise associa-se a síndrome do desequilíbrio agudo e a demência. A diálise peritoneal pode conduzir ao coma hiperosmolar não-cetótico. A imunossupressão pós- transplante renal é neurotóxica e predispõe a leucoencefalopatia posterior, linfoma cerebral e infecções. Alguns antibióticos baixam o limiar convulsivante, com risco de estado epiléptico. As DAEs mais utilizadas na uremia incluem benzodiazepínicos, etossuximida, fenitoína e fenobarbital. Ao tratar-se epilepsia na insuficiência renal, a escolha da DAE permanece função do tipo de crise, mas as doses devem ser ajustadas, sobretudo no que tange às DAEs hidrossolúveis, de baixo peso molecular, pouco ligadas a proteínas e de baixo volume de distribuição aparente. A insuficiência hepática conduz a quadros de encefalopatia que geram crises, tratados pela redução dos níveis de amônia e da atividade bacteriana intestinal, reversão de edema cerebral e de hipertensão intracraniana. DAEs como fenitoína e benzodia zepínicos são quase sempre ineficazes. Imunossupressores pós transplante hepático causam crises tratadas sobretudo com fenitoína ou levetiracetam. Crises na doença de Wilson resultam de deficiência de piridoxina dependente de D-penicilamina. Pacientes com porfiria podem se beneficiar de gabapentina, oxcarbazepina ou levetiracetam. A doença hepática altera a farmacocinética das DAEs, demandando reajuste de suas doses. DAEs pouco metabolizadas pelo fígado como gabapentina, vigabatrina e levetiracetam são em teoria mais adequadas aqui. CONCLUSÃO: O tratamento eficaz das crises epilépticas nas doenças renais e hepáticas requer adequado diagnóstico destes distúrbios e de suas comorbidades, além de conhecimento do metabolismo das DAEs, de suas alterações farmacocinéticas nestes contextos, uso cauteloso de medicamentos concomitantes e monitoramento dos níveis séricos das DAEs.
INTRODUCTION: Renal and hepatic diseases cause seizures and patients with epilepsy may suffer from such diseases which change antiepileptic drugs (AEDs) metabolism. OBJECTIVES: To revise how seizures may be caused by metabolic disturbances due to renal or hepatic diseases, by their treatment or by comorbidities and how AEDs choice might be influenced by these conditions. RESULTS: Seizures arise in renal failure due to toxins accumulation and to complications like sepsis, hemorrhage, malignant hypertension, pH and hydroelectrolytic disturbances. Hemodialysis leads to acute dysequilibrium syndrome and to dementia. Peritoneal dialysis may cause hyperosmolar non-ketotic coma. Post-renal transplant immunosupression is neurotoxic and cause posterior leukoencephalopathy, cerebral lymphoma and infections. Some antibiotics decrease convulsive thresholds, risking status epilepticus. Most commonly used AEDs in uremia are benzodiazepines, ethosuximide, phenytoin and phenobarbital. When treating epilepsy in renal failure, the choice of AED remains linked to seizure type, but doses should be adjusted especially in the case of hydrosoluble, low-molecular-weight, low-protein-bound, low apparent distribution volume AEDs. Hepatic failure leads to encephalopathy and seizures treated by ammonium levels and intestinal bacterial activity reductions, reversal of cerebral edema and intracranial hypertension. Phenytoin and benzodiazepines are usually ineffective. Seizures caused by post-hepatic immunosupression can be treated by phenytoin or levetiracetam. Seizures in Wilson's disease may result from D-penicillamine dependent piridoxine deficiency. Porphyria seizures may be treated with gabapentin, oxcarbazepine and levetiracetam. Hepatic disease changes AEDs pharmacokinetics and needs doses readjustments. Little liver-metabolized AEDs as gabapentin, oxcarbazepine and levetiracetam are theoretically more adequate. CONCLUSIONS: Efficient seizures treatment in renal and hepatic diseases requires adequate diagnosis of these disturbances and their comorbidities besides good knowledge on AEDs metabolism, their pharmacokinetic changes in such diseases, careful use of concomitant medications and AEDs serum levels monitoring.